Por Rafael Carvalho
Fotografias Jonatha Cruz
Para ler ouvindo: Novos Baianos - Mistério do Planeta
Porto Feliz (SP),
nascida às margens do rio Tietê e com uma população estimada de 22.978 habitantes, recebeu mais felicidade
para completar o seu nome, a felicidade teatral. Na tarde de quinta feira (12),
a Kombi Arlequina chega, frio e uma chuva muita da intrometida comprometem a apresentação,
pois não era possível montar o cenário e obviamente, espantaria o público.
Decididos a esperar a melhora do tempo, os Arlequinos decidiram alimentar os
motores, não da Kombi e sim deles, em um restaurante
histórico da cidade.
Como nossos artistas
nasceram com o nariz virado pra Lua, para não dizer outra coisa, o tempo melhorou,
e assim começa a montagem nossa de cada dia na Praça da Matriz. Uma fonte
desativada, uma paróquia e cones da CET fazem parte do cenário. Opa! Cone da
CET? Sim caros leitores, a CET resolveu interditar a Arlequina, argumentando
que não havia autorização para apresentação, mas no final foi tudo resolvido.
Não pense que as histórias em Porto Feliz acabaram por aqui, mas antes vamos
falar da apresentação.
O
envolvimento do público foi notório, e a aprovação também. Com um balaio recém-adquirido
substituindo o famoso chapéu, o grupo teve uma ótima contribuição. Mas não foi
só em contribuição que se mediu a receptividade dos habitantes, “Porto Feliz
foi a cidade que teve a maior receptividade, onde as pessoas questionaram mais o que haveria, e se as apresentações seriam repetidas”, comenta Ângela Garcia
do grupo doBalaio.
Após a apresentação, os viajantes se dirigiram
para Salto de Pirapora, a 80 km de Porto Feliz, onde ficariam abrigados em uma
residência emprestada por conhecidos dos grupos. Aí, voltamos às histórias de
Porto Feliz, agora em Salto de Pirapora.
Acionados
pelos moradores, imaginando que a residência estava sendo saqueada, policiais
se dirigiram ao local criando uma “emboscada” para os meliantes. Ângela Garcia,
saiu em direção a Kombi para buscar pertences que havia esquecido e pra sua surpresa,
foi surpreendida pelos policias que já a abordaram causando uma confusão
durante a madrugada, que no final das contas foi esclarecida, porem, causou um
susto muito grande aos teatreiros.
E desta vez, a recepção foi por conta de Iracema
Cavalcante (68), artista desde 1964 que nos deu a honra de uma breve
entrevista, contando um pouco da sua trajetória nas artes e dando uma lição de
como viver bem fazendo o que se ama.
“Alô?...
Não da pra ouvir, ta cortando a ligação.”, e assim começa a conversa pelo
telefone com uma mulher, de alma risonha e voz aconchegante. Em alguns momentos
encontramos a jovem que trabalhava na bilheteria do circo, e em outros com uma
alma cheia de histórias. Bem humorada, “Esse povo só pensa em comer (risos)” se
referindo aos Arlequinos que tiveram o prazer de receber um almoço preparado
pela própria, ela revela de onde veio e como conheceu sua atual arte.
Como e onde foi seu encontro com a arte?
Entrei no circo em 1964 por acaso. Fui convidada para trabalhar na bilheteria, quando vi já estava envolvida. Não fui eu que entrei no circo, o circo que entrou em mim.
Hoje, os artistas da Arlequina Kombi contam com apoio do Proac e instituições culturais, na época havia esse tipo de apoio, ou era "na raça"?
Não. Era o publico indo e pagando hoje, pra gente comer no dia seguinte.
Como você vê o trabalho destes artistas (atores)? E a colaboração de um fotógrafo especializado em teatro?
O que eles estão levando com essa viagem, nada mais é do que a nossa arte revivendo, a semente plantada dando frutos. Nós perdemos muitas memórias pois o tempo passa e esquecemos as coisas e a fotografia, simboliza a memória. A fotografia eterniza a história, e depois, há o que se mostrar.
Qual a participação, que um trabalho como esse pode ter na sociedade?
Essas crianças (de hoje) não conhecem nada disso, pois a cultura é colocada em segundo plano.Fui me apresentar com meu grupo, e as crianças não sabiam o que era teatro. Esta viagem é ótima pois esta levando conhecimento da arte a vários lugares.
Depois de tanto tempo, ainda há algum sonho com a arte que não foi realizado?
Acho que não porque parei em 1986, trabalhei, aposentei e agora voltei pelo amor ao que faço.Qual conselho você daria para quem quer viver da arte?
Vá em frente! É a melhor coisa que existe. Quando se faz aquilo que ama, é completo e não ser um profissional frustrado não tem preço.
O que isso tudo mudou na sua vida?
O circo é uma grande escola. Tudo que aprendi foi no circo, ele ensina o bom e o ruim. Só basta saber separar.
E o livro? Fale mais sobre ele. Comecei a escrever em 2ooo, em 2010 consegui apoio. O nome do livro é A vida maravilhosa nos Circos-Teatro pela editora Loja de Idéias, e conta em detalhes a vida no circo.
E
quando a sociedade entender que a arte é modificadora e, engrandece a alma
assim como da nossa entrevistada e nossos Arlequinos, haverá mais seres
pensantes e menos guerra de egos. Teatre-se mundo, e faça de suas mentes uma
arma a favor da alegria e do conhecimento!
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